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Analise para restauração da pintura mural do artista Francisco Rebolo Gonsales no Edifício Louveira

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Poster apresentado no V Congresso Latino Americano de Arqueometria - São Paulo - 2016

A pintura em questão é de autoria do importante artista brasileiro, pintor e gravador, Francisco Rebolo Gonsales (São Paulo, 1902 – São Paulo,1980). Ela é parte integrante da arquitetura do Edifício Louveira, o qual foi projetado pelos arquitetos J. B. Villanova Artigas e Carlos Cascaldi em 1946 e é tombado pelo patrimônio histórico. A pintura é rara e de extrema importância, por tratar-se de um exemplar único da atuação do artista como “decorador-pintor de parede”. Situa-se no vestíbulo do predio, é de grandes dimensões (2,98m x 4,00m) e representa uma cena campestre, causando grande impacto no visitante. Rebolo é considerado pelos críticos um dos mais importantes paisagistas brasileiros.
Devido a sua localização a obra encontra-se bastante danificada, com abrasões e perdas de camada pictórica, massas, tintas respingadas e outros problemas. Necessita, portanto, de tratamento de conservação. No intuito de melhor compreender seus problemas e a maneira como foi elaborada foram realizados diversos exames físico-quimicos para caracterização do material e embasamento do tratamento de conservação da obra.

Parte experimental

Em primeiro lugar a obra foi documentada fotograficamente com diferentes tipos de radiação: luz visível, UV e IV.
Em seguida, baseado nessas imagens foi elaborado um mapa de danos. Foi feita uma primeira caracterização dos materiais com equipamento de fluorescência de raios X portátil TRACER III SD da Brucker. A partir da observação organoléptica e das diferentes imagens geradas através das fotografias foram selecionadas as áreas para retirada de amostras e caracterização dos materiais por outras metodologias. Foram retiradas amostas de locais que pareciam ter sido feitos com técnicas diferentes. As amostras retiradas foram montadas em cortes estratigráficos em blocos de resina para que as camadas de pintura pudessem ser observadas e analisadas com lupa binocular microscópica da Nikon na MRIZZO. Para identificar os diferentes elementos presentes em cada uma das distintas camadas optou-se por utilizar técnicas de caracterização de superfície. O MEV/EDS é uma técnica muito útil nesse caso, pois além da visualização da micromorfologia pode-se obter a analise elementar da superfície observada. As amostras foram observadas no microscópio eletrônico MEV- Microscope Electron Varredure Quanta 600S da FEI acoplado a um EDS – Energy Dispersion System no Laboaratorio de Caracterização Tecnoloica da Poli/USP.

Resultados & Discussão

As analises realizadas com equipamento portátil de fluorescência de raios X permitiram identificar os elementos presentes na pintura e inferir quais eram os pigmentos. Mas para avaliação e compreensão da técnica do artista, foi necessário recorrer a analises com retirada de amostras para visualização e analise do corte estratigráfico da pintura.
Foram analisadas diversas regiões de cores e aspectos distintos na pintura mural, o que permitiu identificar a técnica utilizada pelo artista, assim como alguns pigmentos. Foram encontrados, por exemplo, os elementos: C, O, Mg, Al, Si, S, Ca, Fe e Mn. A comparação entre os cortes estratigráficos das diferentes amostras permitiu compreender os diferentes tratamentos dados pelo artista na pintura. No presente tarbalho serão apresentados os resultados das analises de duas regiões distintas: Uma que parecia ser original (telhado da casa) e outra que poderia ter sido repintada (arvore).
Conclusões

As fotografias especiais com LV, UV e IV permitiram ver os detalhes da obra, assim como as áreas de possíveis repinturas e os traços do desenho do artista abaixo da pintura.
As analises feitas com retirada de amostra, montagem de cortes estratigráficos, observação por MEV e analise por EDS permitiram entender a técnica utilizada pelo artista e/ou as intervenções realizadas na obra.
Em todos os estratos da amostra do telhado da casa foram encontrados praticamente os mesmos elementos em diferentes proporções, C, O, Mg, Al, Si, S, Ca, Fe, e Mn somente na superfície. Provavelmente trata-se de uma camada contendo areia (SiO2), seguida de carbonato de cálcio (CaCO3), conhecida como “intonaco” tingida com pigmento úmbria que é castanho e consiste em oxido de ferro, manganês e alumínio. Pode ter havido contaminação de algum verde que contivesse Mg. Nesse caso, a técnica utilizada foi a mezzo fresco.
Na area de cor amarela, da amostra da arvore aparecem os elementos C, O, Mg, Al, Si, S, Ca e Fe. Provavelmente trata-se de uma camada contendo areia (SiO2), seguida de carbonato de cálcio (CaCO3), conhecida, como já foi dito por “intonaco” tingida com pigmento ocre de oxido de ferro. Já a área de cor esverdeada da mesma amostra contem os elementos C, O, Mg, Al, Si, Cl, Ca, Cr e Fe. Deve tratar-se de uma mistura de carbonato de cálcio e areia. O elemento cloro é característico do pigmento ultramarino natural, o qual é muito pouco provável de estar presente nessa composição devido ao alto custo do mesmo. Deve tratar-se de uma contaminação por produtos de limpeza. O verde presente deve ser oxido de cromo (Cr2O3).
Apesar da pintura da arvore parecer mais pesada do que o restante da composição, não se pode afirmar que seja uma repintura. Pode ter sido realizada pelo próprio artista.

Referências

[1] Ajzenberg, E., Gonçalves, A., Gonçalves, R. L., “Rebolo – 100 Anos”, EDUSP, 2002. São Paulo.

[2] Magano, C., Tirello, R. A., “O Restauro de um Mural Moderno na USP: o afresco de Carlos Magano”, CPC´- USP, 200. São Paulo.

Fonte: Poster apresentado no V Congresso Latino Americano de Arqueometria - São Paulo - 2016

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