MRIZZO Restaurações

Tel.:+55 (11) 5535-2690 | 5094-0292 | 99612-3024

E-mail:mrizzo@mrizzo.com.br


Vídeos MRIZZO

Linha do tempo - Breve História do ofício da Conservação e Restauração de Bens Culturais.

Breve História do ofício da Conservação e Restauração de Bens Culturais.
Profª Drª Marcia Rizzo - Livreto exposição FMUSP

Quando falamos de preservação de um bem cultural, estamos falando tanto de conservação como de restauração. As medidas adotadas para conservar um bem são aquelas que o deixam, o tanto quanto possível, protegido de ações (ou fatores) danosas como, por exemplo, exposição ao meio-ambiente inóspito, vandalismo ou até mesmo descaso. Já a restauração implica numa ação direta sobre a obra que já sofreu algum dano, na tentativa de minimizá-lo e/ou revertê-lo.

Hoje em dia costuma-se usar o termo conservador-restaurador de bens culturais, para designar o profissional que atua na preservação do patrimônio cultural tangível, englobando assim as duas frentes.

A filosofia atual do restauro é a de respeito pela obra, com a mínima intervenção possível, e, a utilização de procedimentos e materiais reversíveis. Todo trabalho é fundamentado por pesquisas e analises científicas. Todo o procedimento: antes, durante e depois da intervenção, deve ficar documentado e disponível. Deve-se preservar o máximo possível do original.

Entretanto, sabemos que a maneira de lidar com as obras de arte, na tentativa de preserva-las modificou-se através da historia sendo determinada, a cada período, por motivos religiosos, políticos, estéticos e/ou comerciais.

A história da restauração pode ser encarada como parte da historia da arte, mas infelizmente ainda se encontra um pouco obscura, pois não recebeu a atenção merecida.

Na Europa, a “restauração” de pinturas é praticada desde o Renascimento (fins séc. XIII – meados séc. XVII) embora não da forma que conhecemos.

Na Itália, por exemplo, os pintores costumavam “renovar” as pinturas repintando-as, alterando-as e adaptando-as. Existem alguns documentos que comprovam trabalhos de restauro desde o séc. XIV. Os termos “refazer”, “refrescar” e “lavar” foram encontrados em contratos de trabalho de preservação de pinturas do sec. XV. Essa tarefa era atribuída aos artistas. Se uma obra fosse perdida ou estivesse muito danificada, era natural que fosse feita “cópia” dela.

Já nos Países Baixos, as pessoas tinham a consciência de que as obras de arte eram objetos delicados, os quais requeriam alguns cuidados. As pinturas eram protegidas por cortinas em altares, por vidros ou cristais colocados na frente dos quadros pequenos ou miniaturas ou guardadas em caixas. Os artistas davam “garantias” de que seus trabalhos permaneceriam inalterados “frescos e brilhantes” durante certo período.

O termo “restauração” começou a ser usado mais frequentemente no séc. XVI, mas ainda significando “refazer”. O objetivo do restaurador nessa época era deixar a obra “bonita”. Havia ainda a responsabilidade moral de conservar as imagens sacras parecendo sempre “novas”.

No séc. XVII estabelece-se a pratica de “colecionar pinturas antigas”, iniciada no séc. XVI com as esculturas e objetos de arte. E, portanto, a ideia de que uma antiguidade é intrinsecamente melhor do que uma obra contemporânea, e consequentemente mais cara. Surgem os primeiros museus a partir de doações de coleções particulares.


No séc. XVIII a noção de arte se consolida e em 1764, Johann Joachim Winckelmann, considerado o “pai da historia da arte”, publica A História da Arte Antiga. As academias de arte se proliferam pela Europa e a disciplina “estética” é formalizada pelo filosófo Alexander Gottlieb Baumgarten. Nascem os “connoisseurs”, “experts” e colecionadores. Começa então uma preocupação em comprar e manter essas obras em boas condições.

Ainda no séc. XVIII a restauração se torna uma profissão separada na França e desde então restauradores, historiadores de arte e administradores de museus passaram a dividir e compartilhar a responsabilidade da conservação das coleções.

Na Espanha uma tragédia contribui para a organização do oficio. O palácio Royal Alcazar em Madri, que abrigava uma enorme coleção de pinturas dos sécs. XVI e XVII pegou fogo em 1734. Quinhentas obras foram destruídas, mas outras 1200 foram salvas pela coragem e determinação do mordomo e sua equipe. Obras de Durer, Reni, Raphael, Antonis Mor, Vandyck, Tintoreto, Veronese, Velazquez, Rubens, Bosch, Ribera, Cano, Greco e Ticiano. Elas foram cortadas de suas molduras e arremessadas pelas janelas. Depois foram levadas para conventos, igrejas, etc. Foi organizada uma campanha de restauração com o objetivo de preservar essa coleção da corte espanhola. Portanto, uma das consequências desse incêndio foi o estabelecimento de um programa de restauração organizado e documentado que levou 50 anos e envolveu artistas e restauradores da corte.

No séc. XIX aparece o conceito de conservação preventiva. Na Inglaterra, em 1850, foi criado um comitê no National Gallery, em Londres para avaliar a melhor maneira de preservar e exibir as obras para o publico. Esse comitê tinha a incumbência, entre outras coisas, de averiguar o estado de conservação dos monumentos e obras de arte. Já naquela época, eles estavam preocupados com o grande numero de pessoas que passava pela galeria diariamente (cerca de 3000). Essas pessoas deixavam uma atmosfera insalubre para as obras com poeira e vapores tóxicos, os quais ficavam depositados sobre as pinturas como uma camada de sujeira, causando danos e “desvalorizando-as”.

Aparecem os primeiros teóricos e os primeiros manuais de restauração. Jonh Ruskin, publica The Seven Lamps of Architecture e The Stones of Venice. Ruskin era um apaixonado pelo passado e defendia o valor das construções antigas. Para ele, os sinais do tempo são o que há de mais importante nos objetos. Eles passam a fazer parte da obra e devem ser mantidos. Em contrapartida, na França, o arquiteto Viollet-le-Duc acredita que os edifícios devem ser restaurados para ficarem em perfeitas condições. Em 1866, ele publica Dictionnaire raissoné de l’Architecture Française du XIe au XVe siecle. Muitos teóricos tentaram conciliar as duas vertentes (Ruskin e Viollet-le-Duc), dentre eles, Camilo Boito. Como havia muitas divergências no campo da conservação na época, as instituições começaram a pensarem em normalização dos procedimentos.

Aos poucos a ideia de repintar uma obra para que ela parecesse mais “limpa”, começa a ser substituída pela da limpeza propriamente dita. As pinturas antigas estavam escurecidas devido ao acumulo de sujeira na superfície da camada pictórica e à oxidação do verniz de proteção (feito de resina natural damar, copal, mastique) que haviam recebido muitos anos antes, quando foram feitas. Os restauradores começam a limpar as obras com os solventes disponíveis na época, retirando a sujeira e os vernizes oxidados. Nessa ocasião muitas pinturas foram danificadas, pois as limpezas removeram além dos vernizes, as veladuras. As veladuras são camadas finíssimas de pintura translucida, as quais conferem volume e profundidade à composição.

No final do séc. XIX e inicio do séc. XX começa a haver uma interação entre restauração e ciência. Já existe um conhecimento mais aprofundado de solventes, polímeros, e, portanto, da química aplicada à restauração. As limpezas de obras de arte começam a ficar mais seguras. São redigidos os primeiros documentos internacionais de compromisso de preservação do patrimônio cultural: as “cartas”, documentos normativos resultantes de consenso entre conservadores-restauradores e outros especialistas. A primeira delas foi a “Carta de Atenas”, publicada em 1931, seguida de muitas outras. Em 1961, Cesare Brandi, historiador da arte e diretor do Instituto Centrale del Restauro publica a Teoria del Restauro. Ele defende a importância dos valores estéticos da obra e diz que eles devem ser levados em conta nas tomadas de decisão nos procedimentos de restauro. A Carta del Restauro de 1972, incorpora as teorias de Brandi. A conscientização da importância que tem a preservação do patrimônio cultural na compreensão da nossa própria história tem aumentado cada vez mais. A profissão evoluiu muito nos últimos 50 ou 60 anos.

Na América Latina, a historia do restauro é um pouco diferente. Os primeiros restauradores brasileiros com formação, que se tem noticias, estudaram na Europa ou nos Estados Unidos na década de 40. Como a profissão ainda não é reconhecida no Brasil e os primeiros cursos de formação só começaram há 3 anos, ainda se vê hoje em dia “restauradores práticos”, sem formação. Acredito que houve uma passagem da pratica da repintura (há 50 ou 60 anos atrás) à pratica da remoção de más intervenções e do conceito da mínima intervenção possível (nos dias de hoje). Nesse ínterim os dois conceitos coexistiram passando de um extremo ao outro.

Hoje em dia, a profissão de conservador-restaurador se situa numa interface multi e inter-disciplinar, com a interação entre restauradores e: historiadores, museólogos, físicos, químicos, biólogos, etc. As decisões são tomadas baseadas em pesquisas históricas e analises cientificas, pois cada obra é um sistema único e complexo e deve ser tratado como tal. O conservador-restaurador faz uso de aparelhos como espectroscopia de infravermelho (IV), espectroscopia Raman, microscopia com luz polarizada, microscopia com radiação ultravioleta (UV), microscopia eletrônica de varredura (MEV) com analisador de dispersão de energia (EDS), ressonância magnética nuclear, analisador de partícula induzida por emissão de raios X (PIXE), aparelho de raios X, fluorescência de raios X por dispersão de energia (EDXRF), analise térmica (TG, dTG, DSC), etc. Esses aparelhos podem ser fixos ou portáteis e permitem caracterizar os materiais constituintes das obras de arte, assim como aqueles adicionados posteriormente ou provenientes de processos de degradação. Exemplos de utilização desse tipo de tecnologia estão ilustrados nas figuras 6 a 28.








Bibliografia:

BRANDI, Cesare. Teoria da Restauração. São Paulo: Ateliê, 2005.
CONTI, Alessandro, History of the Restoration and Conservation of Works of Art, Oxford, Elsevier, 1988.
HERMES, E., Looking Through Paitings – The Study of Painting Techniques ans Materials in Support of Art Historical Research, Netherlands, Archethype Publication, 1998.
PRICE, N. S., TALLEY Jr, M. Kirby, VACCARO, A, M, Historical and Philosophical Issues in the Conservation of Cultural Heritage, Readings in Conservation, PAUL Getty Trust, 1996.
RIZZO,M.M., PASCHOLATI, P.R., NEVES, G., RIZZUTTO, M.A., TABACNIKS, M.H., BARBOSA, M.D.L., FARAH. J P. S., Interdisciplinaridade: Utilização de Diferentes Técnicas Analíticas para Elaboração do Diagnóstico e Proposição do Tratamento de Restauro numa Pintura à Óleo sobre Tela Atribuída à Van Dyck, in LASMAC “1º. Simpósio Latino Americano sobre Métodos Físicos e Químicos em Arqueologia, Arte e Conservação de Patrimônio Cultural”, no MASP, em São Paulo, S.P., Brasil, de 11 a 16 de Junho de 2007.

RIZZO,M.M., Multi, inter e trans disciplinaridade no exercício da preservação do patrimônio cultural: a interação do restaurador com a área científica, Conferência apresentada na Introdução à Oficina 3: “ Métodos analíticos no estudo de arte e arqueologia: processos de decisão e estudos de caso.” In CADAPAC “Caracterização e Datação do Patrimônio Artístico Cultural”. Escola Temática Interdisciplinar Internacional feita em São João del Rei, MG, em comemoração ao ano Brasil-França, de 25 a 31 de Outubro de 2009.

RIZZO,M.M., Caracterização físico-química de materiais de esculturas de cera do museu Alpino. Dissertação de Mestrado, Instituto de Química da USP, 2008

RIZZO,M.M., Como se dá o trabalho interdisciplinar, III Revista da APCR “Associação Paulista de Conservadores e Restauradores de Bens Culturais”, em Novembro de 2004.

RUSKIN, J, As Pedras de Veneza, São Paulo, Martins Fontes, 1992.
STANIFORTH, Sarah, STIWELL, Cristine, Studies in History of Painting Restoration, proceedings of a symposion held in London , The National Trust,1996.
VIÑAS, S. M., Contemporary Theory of Conservation, Routledge, 2005.
VIOLLET-LE-DUC, Eugene Emmanuel. Restauração. Cotia, Ateliê Editoria, 2000.

Fonte:

MRIZZO Restaurações

Todos os direitos reservados a MRIZZO Restaurações

Contato

Telefone: +55(11) 5535-2690 | 5094-0292 | 99612-3024

Intatica Marketing de Busca